domingo, junho 27, 2010

Cinismo dá as caras na Copa

A cultura futebolística italiana cunhou já há muito tempo a expressão “squadra cinica” para denominar aquelas equipes que precisam de apenas uma chance, criada em decorrência de sua própria capacidade ou da incapacidade do adversário, para abrir vantagem no placar, praticamente decidindo a sorte do jogo, e depois ficar especulando com o resultado.


Essas equipes normalmente são aquelas que cumprem vários pré-requisitos. Entre eles estão: um entrosamento já perfeito em virtude do longo tempo de convivência entre os principais jogadores, bom número de atletas de qualidade, defesa sólida para aguentar uma possível pressão do adversário enquanto essa chance não aparece etc.


Pois hoje esse “cinismo” apareceu na atual edição da Copa. E curiosamente por intermédio de duas equipes, Argentina e Alemanha, que, principalmente por conta da baixa média de idade da vários de seus jogadores, não cumprem alguns desses pré-requisitos. No “Massacre de Bloemfontein”, depois do término do primeiro tempo, tudo que os alemães precisavam era de apenas um contra-ataque bem armado para liquidar a partida. Tiveram dois; aproveitaram ambos.


Caso diferentes - A atual Alemanha é uma mistura de alguns veteranos da Copa passada com os jovens campeões da última edição do Sub-21 europeu. Logo, o entrosamento não foi maturado por anos e anos de convivência mútua.


A Argentina também foi pelo mesmo caminho em seu jogo. Após aguentar a pressão inicial dos mexicanos, diferentemente da partida envolvendo os alemães, tiveram a sua disposição duas chances criadas em decorrência de uma mistura de falhas dos adversários, a do segundo gol foi simplesmente grotesca, e mérito próprio.


Também aproveitaram ambas.


A Argentina, assim como a Alemanha, não possui o check list da “squadra cinica” completamente preenchido. Aqui o problema principal é que a defesa não é das mais sólidas. Mas é preciso dizer também que impressiona a forma como os atacantes auxiliam os defensores na marcação. É comum o espectador ver Tevez, Di Maria e até mesmo Messi roubando bolas dos adversários ainda no ataque e já procurando ligar um contra-ataque.


A partida entre essas duas equipes no Green Point no próximo sábado tem tudo para ser a final antecipada da atual edição da Copa. Azar do futebol que uma delas tenha que cair fora depois do jogo.


Pontos em comum - Se a Argentina não conta com alguém para pensar o jogo como Özil - quer dizer, até conta, mas Verón já não tem a mesma capacidade física que o alemão exibe atualmente -, pode contar com as arrancadas de Messi; se os atacantes da Alemanha não possuem a mesma técnica de Higuaín e Di Maria, também é verdade que os argentinos não possuem gente no ataque com a força física de Klose e Gomez - até contam, mas o Palermo entra na mesma categoria do Verón - e por aí a coisa vai.


Essas comparações podem ser feitas para todos os jogadores que os treinadores contam em seus elencos. E em poucas ocasiões haverá muitos pontos em comum. O que aproxima essas duas equipes, além desse “cinismo” exibido hoje, é a aposta que seus treinadores fizeram no talento, independentemente da idade, e no futebol ofensivo.


Tomara que o confronto entre elas renda mesmo uma partida inesquecível.


PS: O italiano do Maradona é muito, mas muito melhor do que o do seu ex-companheiro de Napoli Antonio Careca.


PS II: Nos primeiros quatro jogos da fase de mata-mata desta Copa já ocorreram 15 gols. Na última Copa, 30 em todas as partidas decisivas das oitavas até a finalíssima de Berlim. Parece ser um bom presságio.

3 comentários:

  1. Gilson, de certa forma o Brasil também está nessa categoria. Não cumpre o checklist mas possui uma defesa razoavelmente sólida (estou atribuindo cochilo dos dois gols levados a certeza da vitória), um meio cuja o meia tá baleado mas em forma cumpriria bem o papel do pensador e um ataque insinuante e forte (com o Fabigol). O problema é que o time chegou ao ápice no ano passado, Káka está debilitado, Fabigol ainda se recupera e Dunga nao trouxe alternativas para mudar o jogo. Mas as chances que o Brasil criou, converteu nesta Copa.

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  2. Depois de assistir aos jogos de ontem mudei minha opinião sobre a Argentina. Antes achava que ela não iria muito longe nessa copa. Agora, acredito que ela já foi longe demais.

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  3. Samy, se prepara pois vc vai receber uns peladões aí no Sul...
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    A entrevista do Maradona ontem após o jogo foi hilária. O cara vive dos holofotes e esta se deliciando nesta copa. Dedicou a vitória ao Valentino Rossi, disse aos jogadores que os mexicanos estavam bravos pois estavam levando um baile, autorizou um jornalista a escrever o que quiser sobre Alemanha x Argentina e quando a entrevista acabou, insistiu pra que ela continuasse fazendo um coro: "una (pergunta) más, una más..."

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