domingo, julho 04, 2010

América do Sul: modelo de negócio equivocado gera futebol deficiente

A atual edição da Copa do Mundo, que também pode ser entendida como a UEFA Euro2010 em versão africana, vem mostrando inequivocamente que o futebol da América do Sul precisa ser repensado. E existe certa urgência nisso, que deve acontecer antes que esta parte do continente americano vire no futebol o que a África representa para a economia global.

O fato da competição se desenvolver na África confere um realce ainda maior ao domínio que as potências da bola na Europa vêm demonstrando na Copa. Hegemônica no futebol de clubes por conta do poderio financeiro de seus representantes, o continente europeu estabeleceu para a América do Sul o papel de fornecedora de craques, em uma versão boleira e sofisticada do colonialismo que existia dois séculos atrás.

Nele, os países daqui “produzem” a mão-de-obra qualificada que ajuda a valorizar o produto que é oferecido para o consumo do torcedor europeu. E esse modelo gerou ao longo dos últimos 28 anos aspectos positivos e negativos para o futebol da América do Sul, principalmente brasileiro e argentino.

Clubes x Seleção – O primeiro deles foi o gradual empobrecimento do nível técnico do futebol praticado pelos clubes, pois o modelo de negócio amplamente dominante hoje em dia é o que estabelece que o balanço financeiro da esmagadora maioria dos clubes de Argentina e Brasil só será salvo com a venda anual de pelo menos uma jóia ao mercado europeu.

Como isso nem sempre é possível, o balanço em muitos momentos é equilibrado pela injeção de dinheiro de um “mecenas” – normalmente o presidente do clube -, empréstimos bancários ou mesmo adiantamento de cotas de televisão ou patrocínio. E isso faz com que uma futura venda seja ainda mais necessária, pois ela representaria não apenas o desafogo das finanças mas também evidenciaria ao mercado a expertise do clube em revelar craques. Ela auxiliaria na obtenção de dinheiro novo – cujo retorno ocorrerá no ato da venda de um novo craque - para quitar os empréstimos antigos e melhorar sua estrutura.

Assim, para os clubes, estabeleceu-se um perverso ciclo vicioso. O principal problema é que os atores mais importantes dele não estão, pelo menos no momento, muito interessados em nenhuma espécie de mudança.

Fontes alternativas de receita, como patrocínio nas mais diversas partes da camisa, construção de arenas modernas capazes de receber outro tipo de espetáculo que não apenas o futebol, parceria com investidores etc. ainda estão em estágio embrionário demais nesta parte do planeta.

Se para os clubes o cenário é desolador, para as seleções ele é incrivelmente róseo. Na Europa, os craques de Brasil e Argentina contam com máquinas muito bem azeitadas de marketing, principalmente de Adidas e Nike, para fazer com que suas proezas nos gramados do Velho Continente recebam o justo reconhecimento dos amantes da bola em todo o mundo.

Assim, com desembolso muito pequeno de dinheiro e pouco trabalho – em alguns casos nenhum! -, a cada convocação as seleções daqui recebem ícones globais da bola. Como esse tempo em que servem às seleções nacionais é o único período em que os craques podem travar contato próximo com o torcedor local, as confederações de Argentina e Brasil vêm conseguindo contratos de patrocínio vultosos e de longa duração, fazendo com que seus cofres estejam sempre cheios.

Fortalecimento europeu – No entanto, a preguiça e a miopia das confederações de Brasil e Argentina acabaram resultando em problemas para os destinos de ambas as seleções na Copa da África.

O primeiro problema aconteceu com a oferta de material humano em algumas posições. Cientes de que existe maior valorização de atacantes e meias, os clubes locais simplesmente deixaram de se interessar em “produzir” defensores. Apenas isso – ok, a adoção indiscriminada do 3-5-2 pelos clubes brasileiros depois do Mundial da Ásia também tem sua parcela de culpa nessa equação -, pode explicar o fato de que o último lateral esquerdo competente produzido no Brasil tenha sido Júnior, que foi revelado pelo Vitória no meio da década de 1990.

Além disso, existe também a questão da valorização financeira do craque. Na Europa, os dirigentes de vários clubes perceberam de que é mais fácil revelar do que comprar o craque pronto e começaram a criar interessantes estruturas de desenvolvimento para os talentos da bola, sejam eles locais ou de outro país.

O contato com os sistemas de desenvolvimento técnico para os craques daqui vem se mostrando decisivo nesse ponto. La Masia, local onde residem as futuras estrelas do Barça, é o mais emblemático ícone dessa mudança.

Sem a pressa que caracteriza a formação do jogador na América do Sul, os europeus vêm mostrando que aprenderam mesmo a como desenvolver tecnicamente um jogador e puderam mostrar um número grande de craques novos nos últimos anos.

A Alemanha, no elenco que disputa a Copa, conta com mais da metade do elenco com menos de 25 anos. No Brasil de Dunga apenas Ramires entraria em lista semelhante.

Além disso, impressiona que Alemanha e Espanha contem com volantes capazes de auxiliar decisivamente o ataque, praticamente meias travestidos de defensores, como Schweinsteiger, Khedira, que acima, em foto do Zimbio, aparece perseguindo Tevez na partida de ontem, Xavi e Busquets, enquanto o Brasil contava com Felipe Melo, Gilberto Silva e Josué.

Apenas o tempo vai dizer se esse domínio europeu veio para ficar, mas o fato concreto é que a bola está com os responsáveis pelo futebol daqui. E é bom que eles comecem logo a pensar no que fazer.

8 comentários:

  1. Concordo com tudo o que escreveste Gilson. Esse modelo de negócios precisa mudar. Apenas acredito que isso já esteja acontecendo. E também acredito que não teve relação com o que aconteceu na copa.

    Quanto a Argentina, sempre falei que ela não iria longe, na verdade foi, até mais do que imaginava. Se bem que o primeiro adversário grande que ela pegou foi a Alemanha e levou uma goleada para não esquecerem mais. Como eu tinha dito antes: O Maradona não é técnico.

    Quanto ao Brasil, bem, pelo primeiro tempo do jogo contra a Holanda, acho que ficou claro a superioridade da seleção brasileira, não? Tínhamos como ter líquidado o jogo naquele ponto. Talvez tenha faltado o Elano para ajudar a tornar isso realidade, não sei.

    No segundo tempo, vi que o jogo iria ser diferente na primeira bola que o Felipe Melo tocou. Ele deu um toque de calcanhar quase deixando o Roben fazer um gol. Ali vi que havia algo errado com a seleção, talvez soberba, talvez tenham comemorado demais no vestiário, ou talvez apenas demência mental do Felipe Melo. A Holanda achou um gol em um cruzamento para área em que o melhor goleiro do mundo saiu errado e o Felipe Melo colocou para dentro. Depois disso podiam dar a vaga para a Holanda, o Brasil se perdeu em campo e logo depois um gol de escanteio para demonstrar isso.

    Mesmo tentando ajustar depois, e o Kaká tentando resolver sozinho já era tarde demais. A Holanda se fechou e tratou de tentar o contra ataque. A única chance que tivemos de empatar foi em uma falta que o Daniel Alves chutou na barreira.


    Acredito que a Holanda vá ser campeã dessa copa. Mas o Brasil também poderia ter sido. Nós levamos um bom time para a África, mas como disse o Juca Kfouri, esse time não era o que foi escalado pelo Dunga. A briga do Dunga com a imprensa e a teimosia em tentar mostrar que ele estava certo não permitiram que ele enxergasse isso.

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  2. Sobre renovação no Brasil:

    Realmente há um interesse maior em atacantes e meias no mercado e talvez por isso esse seja o maior investimento dos clubes, mas estão surgindo alguns nomes bons no Brasil para a defesa também. Vou citar alguns nomes dos clubes que mais acompanho:

    1. Primeiro Volante: Sandro, chegou até a ser convocado pelo Dunga nas eliminatórias mas ficou de fora da relação final. Depois da Libertadores(Quando o Inter for campeão) deve ir para o Tottenham(não sei se é assim que se escreve) da Inglaterra.
    2. Segundo Volante: Hernanes, já não é tão novo, e deveria ter isso para essa copa. Mas vai ter 29 anos em 2014 e se continuar jogando como joga no São Paulo, vai ajudar muito.
    3. Zagueiros: Danilo Silva, está hoje no Dínamo Kiev, mas joga muito bem e é muito rápido. Não é tão novo, mas terá uma idade boa na copa de 2014.
    Mario Fernandes, jogador do Grêmio e apesar disso é um jogador que não faz muitas faltas, se antecipa bem nas jogadas e sabe sair jogando tão bem quanto um meia.
    Sidnei, jogador do Benfica, foi considerado um dos melhores zagueiros da temporada portuguesa em 2009. Na temporada de 2010 ficou machucado. Mas tem muito potencial.

    Resumindo, pegando apenas jogadores revelados por dois clubes, temos bons nomes surgindo. É pouco, ainda não temos laterais bons o suficiente para a seleção. O Daniel Alves vai ter 31 anos na copa de 2014 e o Maicon é mais velho que ele. Mas acho que alguns clubes já estão se movimentando para preparar jogadores nessa área também.

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  3. Só ontem caiu a ficha. A copa acabou! Domingão sem jogo nenhum, nem mesmo meu corinthians em campo. Fiquei como um zumbi em casa sem animo nem pra almoçar.

    Ler jornais, que adoro, pareceu ridiculo. Cadernos da copa nem pensar, foi direto pro lixo. E dá-lhe essa coisa insuportável de Serra x Dilma.

    A naba que a Argertina levou só aumentou a tragédia deste torcedor. Agora é apostar no impossível: Uruguai aprontal alguma pra Holanda. O que pode acontecer, posto que 1.os caras tão descontraidos, é churrasco, chimarrão, familia durante a copa inteira. 2. Holanda ganhou mais por falhas do Brasil do que por merito proprio e 3. É só os Uruguaios distribuirem umas boas botinadas nos caras certos logo no inicio do jogo que a coisa se equilibra.

    Alemanha vai perder para Espanha. Assim eu digo, assim será!

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  4. Zeba, acho que a Alemanha ganha da Espanha. E a Holanda passa pelo Uruguai.

    Sobre o Maradona, o que mais lembro dele como jogador é desse lance abaixo:

    http://www.youtube.com/watch?v=J3ywgQveTlI

    Curiosidade, o video foi gravado da transmissão da rede globo com narração do Luciano do Vale. E o repórter de campo era o JUAREZ SOARES!!!!!!!

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  5. Zeba, pra mim esse negócio de cair a ficha começou no Domingo e atingiu o fundo do poço ontem. Uma droga mesmo. Lá por 2005 cheguei a pensar que o Brasil poderia emplacar uma série histórica de vitórias pois além do super time pra 2006 (Ronaldo, Adriano, Zé Roberto, Kaka, Emerson, Ronaldinho, Roberto Carlos, Cafu, Juan, Lúcio e Dida), teríamos Copa na África (que pra manter a tradição não teria ganhadores europeus) e logo depois Copa no Brasil! 8 títulos em 20 Copas - supremacia total. Mas a realidade é sempre pior e olha o ponto que chegamos, não ganhamos nada e estamos (muito) atrasados parar 2014 (só pensando no time). Do meu ponto do vista a reformulação no futebol tem que ser profunda e não sei 4 anos serão suficientes. Vou escrever um post sobre isso mas, em resumo, passa por criar uma primeira divisão com 30 a 40 jogadores que pudessem ser titular de uma seleção brasileira e estimular a permanência destes por 2014.

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  6. Diversos pitacos...
    O primeiro deles: concordo com o Samy que o lance que deu a dica do que seria o segundo tempo de Holanda x Brasil foi aquele calcanhar do Felipe Melo. E também que o gol de empate foi achado.

    No entanto, é preciso dizer que a Holanda voltou do vestiário marcando muito, mas muito melhor que o Brasil. No lance supracitado, o do calcanhar, a bola estava saindo da defesa do Brasil e o Daniel Alves ficou encaixotado pela marcação na altura do meio campo. Aí teve que voltar a pelota para o Felipe Melo. Este, também sem saída óbvia, recuou para o Juan. Só que escolheu o modo errado.

    Em vários outros momentos do segundo tempo, como no escanteio que origina o segundo gol, algum jogador brasileiro se viu sem nenhuma alternativa válida de passe que não envolvesse drible.

    E por jogador brasileiro entendam os dois zagueiros, Felipe Melo e Maicon, que eram os responsáveis pela saída de bola. O Daniel Alves poderia entrar nesse rol se tivesse mais tempo de treinamento com os titulares.

    Em muitos momentos ele me passou a impressão de não entender corretamente os mecanismos da equipe.

    A Holanda matou assim o contra-ataque brasileiro. E com a bola cada vez mais na defesa brasileira, era questão de tempo pra a virada acontecer.

    Sempre defendi a tese de que a diferença entre a boa defesa e a razoável, salvo honrosas exceções, é a qualidade do suporte prestado por atacantes e jogadores do meio campo.

    Essa do Brasil não entra nessas exceções.

    Segundo: minha seleção para 2014, na data de hoje, é esta:
    Diego Alves (Almería); Mario Fernandes (Grêmio), Sidnei (Benfica), Thiago Silva (Milan) e David Luiz (Benfica); Jucilei (Corinthians), Wesley (Santos) e Paulo Henrique (Santos) ou William (Shaktar); Pato (Milan), ninguém (sem clube :-P) e Douglas Costa (Shaktar).

    É uma equipe que não me empolga muito. Pode dar certo, mas não vejo nenhum futuro megacraque nesse rol. Talvez o Pato... ou ninguém, esse novo centroavante.

    Vou começar a pensar em uma possível convocação de Enganílson. :-P

    Terceiro: Paul, o polvo-profeta, acaba de vaticinar que a Espanha será a primeira finalista da Copa.

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  7. Pô Pimenta. Mas o que doeu mais foi o naufrágio de nosso projeto "easy raider diegito nu".

    Olha que já tinha combinado com Carla e Nana que eu, vc, e rodrigo iríamos de carro uns dias antes visitando amigos pelo caminho e elas já lá estariam quando chegássemos.

    ISSO EU NÃO VOU PERDOAR OS ALEMÃES NUNCA! se eles tentarem acabar com o mundo uma terceira vez, nem ligo, mas sabotar nosso projeto é inapelável.

    ET. Olha o uruguai aí. Ainda é cedo para gritar um CHUPA GILSON, mas tá aqui guardado(Brincadeira de um amigo heim Gilson!)

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  8. Holanda perdendo, vai se tornar o unico pais existente (Checoslovaquia já era) que teve mais de uma final e nunca ganhou.

    Fora que neste confronto direto, a Espanha passaria, diretamente, a vassoura dos sempre imaginados campeões.

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